31 março, 2011

neste dia do desassossego foi na rua sta catarina, tal com há trinta anos, A. Dasilva O. comemorou trinta anos de actividade editorial,...e tudo, ensanduichando-se entre a ficção e o quotodiano, espalhando a palavra, enquanto amarrado a um dos pés arrastava o seu livro «excrementos», num registo fotográfico de António S. Ferreira





Escritor A.DaSilva.O espalha a “palavra” no Porto


31 de Março de 2011, 19:41Foi há 30 anos que em plena rua Santa Catarina, no Porto, o escritor A.DaSilva.O lançou o seu primeiro texto escrito num rolo de papel com 30 metros. Três décadas depois, o autor comemorou a data espalhando literalmente “a palavra”.



“Olha a palavra”, começou por anunciar o poeta alternativo, à medida que passava pelas pessoas e entregava mais uma folha branca onde se lia “Palavra”.



Numa rua Santa Catarina apinhada de gente, foi com desconfiança que as pessoas encararam um homem a apregoar a palavra, forrado com um cartaz a evocar o dia em que lançou o seu primeiro texto escrito num rolo de papel com 30 metros.



“A ideia inicial era trazer um fardo em tamanho de livro, mas tinha mais de 500 quilos. Era preciso vir um camião Tir”, explicava A.DaSilva.O, ao mesmo tempo que via mais uma pessoa rejeitar a sua “palavra”.



O punhado de folhas brancas não estava a ter saída, por isso espalha-se literalmente a “palavra”. As folhas começaram a voar em sintonia com mais um pregão: “Olha a palavra nem é boa nem é má, olha a palavra”.



Responsável pelas Edições Mortas, A.DaSilva.O define o seu projeto como “contestatário”, pretendendo ser “uma editora que tenta fazer literatura e não comércio”. Uma literatura de “ambiguidades, que acrescenta mais um ponto” em oposição aos “best-sellers que só querem dinheiro”.



Amarrado ao tornozelo, o seu livro “Excrementos” raspa no chão, pois diz o autor “o que há mais é m...”, parafraseando o colega de profissão que já dizia “onde há m... há ser”.



Confrontando com a pergunta: “Será que as pessoas estão a entender a iniciativa?”, A.DaSilva.O não parece preocupado. “Não me interessa, logo à noite quando pegarem num livro elas vão entender”, argumentou.



Há 30 anos, a iniciativa do escritor parou a rua mais movimentada da cidade do Porto, onde a polícia chegou a deter alguns intervenientes para interrogatório. Três décadas depois, a evocação da data não consegue o mesmo impacto.



A “palavra” voa cada vez com mais intensidade e forra de branco o passeio de calçada á portuguesa. Quase ninguém a conseguiu ler, à exceção do varredor da Câmara Municipal do Porto, que teve trabalho para toda a tarde.



Trinta anos depois, todas as “palavras” acabaram no balde do lixo.



@Lusa