21 de Março 2012, dia da Poesia
Volteava-me no vale dos lenções
deste perdido
pilhado e ocupado país
outrora país de
marinheiros e de poetas
entre ais e lais de quem na vida
tenta usufruir as
suas pequenas
coisas quando o
amigo Gaspar
me telefona que
estavam ele e a sua equipa
como manda a lei
à minha porta
afim de me penhorar os bens
Um momento e acendo a vela
A musa e tusa já tinham abandonado
o leito de morte
apago a vela e retiro as enciclopédias
que substituem parte do vido
da janela o sol enche-me de tesão e lá
vou eu
abrir a porta e o
amigo Gaspar entra todo sorridente
à frente dum
grande elenco peço desculpa por estar
apenas com um monte de apontamentos a tapar
a minha
privacidade sorriem compreensivos e também
pedem desculpa
mas ninguém está acima da lei
Assim seja concordo eu no tempo da outra
senhora
apareciam ao
romper do dia tal como a morte
A liberal ditadura trá-los à hora do
almoço
Sou poeta estava naturalmente a dormir
Um dos estados a que o cidadão-parasita
canoniza quem
lhes alimenta o espirito
O outro estado é o de sonhar acordado
Mas o que é que se passa afinal
se me querem
oferecer algum prémio
recuso como sempre ironista
Estamos aqui a fim de lhe consfiscar
os bens é esta a
sua casa não respondo
É esta e afasto os apontamentos querem o
meu
fígado os pulmões
o coração um policia mais zeloso
aponta com
gravidade a sua autoridade
e pedem os meus
documentos que penam
sobre as várias
edições da Constituição
Calçam as luvas e observam os documentos
e perguntam-me há
quanto tempo vivo nesta ilha a céu aberto
Desde que me conheço
que vivo em Utopia o amigo Gaspar
pede desculpa que
tudo não passou de um mal entendido
Não percebo resmungo você foi confudido
com outra pessoa
Acontece muito aos poetas de qualquer
forma fica informado
que esta ilha vai
ser vendida em hasta pública
Concordo plenamente nenhum homem é uma ilha
e volto para o
vale dos lençóis
assim como a musa
e a tusa
A. Dasilva O.