e mais seis meses
tenho martelado
num teclado de murano vidro, diz o poema
O meu silêncio é a tua liberdade de expressão, diz o poema
a minha imaginação é a tua doença, diz o poema
O eterno feminino quando retorna, diz o poema, até o caos chora sobre o leite derramado, a humanidade que o beba como sangue do seu mal-estar
alimento um sapo que tenho no estômago, diz o poema
toda a gente parece saber o que penso e se passa comigo, menos eu, diz o poema, que me limito a lavar e dar a ferro às negras, porcas e doentias nuvens
o efeito é uma borboleta, diz o poema
O Poema caiu
e todos foram informados
para se manterem em casa
As crianças deliciam-se
brincando com as suas banhas
e ossadas de outrora
brincando com as suas banhas
e ossadas de outrora
Os adultos brincam
com a infância
que nunca tiveram
com a infância
que nunca tiveram
é black friday
onde os mercados
expõem o fruto da sua má fé negocial
onde os mercados
expõem o fruto da sua má fé negocial
as tvs cospem
banalidades de base
banalidades de base
diz o poema
com quatro versos se faz uma canoa, diz o poema
O Esteio, inesquecível de tão esquecido, diz o poema
tenho um poema no sapato que não se cala, diz o poema
Acendo um cigarro nos pulmões, diz o poema
estou a comer um sonho, diz o poema
Acendi uma vela no coração, diz o poema
Só não ama quem tem amor, diz o poema
Os poetas conhecem-me, diz o poema