15 maio, 2005
11.05
Pergunta o culpado:- o estado de coisas literário parece-nos quase tão estranho como a idade da pedra? Responde o inocente:- malditas situações, citações. Porque continua a ser válido a nossa indiferença por um original esvaziado de sentido e esquecido, continua a engendrar um certo sublime. Mesmo sabendo, raciocina culpado, que só nos restam quarenta e cinco anos, segundo vozes científicas e credíveis? O inocente sorri:- mas a humanidade está morta, por assassinada, há sessenta anos! Qual é o pânico? Por estranho que pareça, Deus continua vivo e morde. O culpado irrita-se:- Aqui quem faz perguntas sou eu, certo? Voltando ao seu “relatório sobre a construção de citações” O Inocente pede desculpa por interromper: mas eu ainda não escrevi esse relatório? O culpado:- eu sei, foi Kafka! Vós os falsos amigos do povo, não fazem outra coisa senão cuspir na nossa inteligência. Mas fui treinado para estas situações. Inocente riposta: mas eu não sou Guy Debord. Está morto. Pois, pois, pois estamos todos mortos, soletra culpado com um sorriso amarelo, no entanto procriamos...
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