22 novembro, 2010
O ser Não, video-leitura da pulga.estúdios e o texto A. Dasilva O. nos Encontros Novas Dramaturgias Contemporâneas
O Ser Não, de A.Dasilva O.
1. Uma mala de viagem cai estrondosamente no palco. Abre-se e dá a ver vários adereços, vestuário,máscaras e maquilhagem, que o actor usa ou utiliza no seu trabalho que se espalham desordenadamente
2. Sentado numa mala de viagem que arrasta lentamente do poscénio até à boca de cena. Senta-se. Aponta para a mala:
Actor :- Nesta mala estão todos os meus haveres (aponta para o palco) este tem sido o meu mundo…a casa…(olha para o público) vocês (pausa) a minha família (emocionado) desculpem mas fui mordido por um anjo (pausa longa) É bom viajar, conhecer, trocar conhecimentos, (ri) partilhar catástrofes, enfim ser parte integrante de uma Máscara que um dia nos olha (ergue-se e olha) e nos ensaca e nos reduz à ignorância (começa a pontapear violentamente a mala de viagem que começa a libertar sangue e um cheiro nauseabundo) já vivi tudo (pausa) vivi tudo o que tinha a viver neste palco miserável, miserável e ingrato(volta a sentar-se, dando a mostrar um corpo dentro da mala entre aberta)De nada vale humanizar este palco (pausa) ele tem uma alma irracional.(pausa) uma dialéctica negra (pausa) um único sentido (aponta para o público e começa a gargalhar) fui mordido por um anjo (levanta-se enojado. Começa a contorcer-se e a vomitar) Tens que vomitar tudo e depois, deves começar a comer o próprio vomitado (olha o público) foi o que me foi dito no primeiro dia (arrota) Não quero que vos falte nada Antígona, Édipo, Macbeht, Lear, Fausto e todos os outros desculpem se me esqueci de alguém...(risos) é claro que me esqueci mas não é de propósito, amo-os acima de tudo.(pausa).. carne da minha carne.(pausa) Estou farto da vossa carne irracional e de vos reincarnar...de vos dar voz, ora de prisão ou de liberdade, na constante agonia de existir(pausa) Estou farto de fazer de morto (pausa) Já nada me dói(pausa) foste mordido por anjo, disseram-me, vais ter de o vomitar e voltar a comê-lo (pausa longa entre gestos «obscenos» começa de novo a pontapear até dar a ver um cadáver) tira uma garrafa de água de bolso exterior do casaco. Bebe vagarosamente entre saudações) Adeus! Adeus! Adeus Sófocles! Adeus, Gil Vicente ! Adeus Strindberg ! Adeus Stanislavski e a tua merdosa preparação do actor essa besta-criança utópica que a literatura arrasta no ventre, nado morta.!!! Adeus BB e a tua Mãe que várias vezes me violou!!! Adeus Genet, Blind, Brook, Cocteau!!!ou vice-versa (pausa) Adeus Artaud e os teus bem aventurados grunhidos! Adeus Beckett, Ionesco, Piscator!!! Adeus Grotowiski com o teu teatro pobre, do corpo sem-abrigo !! Adeus Miller, Tchecokhov (vai saindo de cena de frente para o público) Adeus, adeus, adeus (corre para a boca de cena atira a mala e cadáver para o fosso e sai de cena)
3 Um foco de luz acende-se no palco. Apaga-se. Acende. O Actor cai estrondosamente. Morre.
4.Pano