16 abril, 2011

aí está «O comuneiro» no seu 12 número



«O governo português e o consenso geral das forças dirigentes do país aprofundam a sua política de submissão aos ditames da grande finança internacional, com um pedido de resgate que é uma gravíssima e irreversível hipoteca para o destino coletivo deste povo. O PCP e o Bloco de Esquerda tiveram um inédito encontro, mas ainda não foram capazes de, em conjunto ou cada um deles por si próprio, propor ao país, o repúdio de todos os PECs e dos ajustes estruturais impostos, a saída imediata do euro, a suspensão dos pagamentos e a reavaliação devidamente ponderada de toda a dívida externa soberana, o que quererá dizer, sem dúvida, a prazo, o abandono desta União Europeia. Estas medidas “extremistas”, devidamente enquadradas pela nacionalização dos sectores estratégicos, com um rigoroso planeamento económico de emergência e outro de projecção a médio prazo, com novas opções internacionais, são as únicas possíveis de ser encaradas, não diremos já por socialistas, mas por quem queira manter um mínimo de decoro nacional e respeito formal pela virtus republicana. Como o velho Marx gostava de citar do seu Esopo: Hic Rhodus, hic salta!

Este número do Comuneiro propõe aos seus leitores quatro ensaios de reflexão histórico-mundial, a partir da crise actual do capitalismo, por quatro grandes pensadores marxistas contemporâneos, dos quatro cantos do globo. Samir Amin, ensaísta de origem egípcia e africano adotivo, convoca-nos a pensar a nova vaga de luta emancipadora dos povos, nações e Estados da periferia, como sendo o grande desafio ao atual sistema capitalista dos monopólios generalizados. O argentino Jorge Beinstein prevê uma nova recessão profunda na economia mundial, como uma parte apenas da multifacetada crise da civilização capitalista, em declínio histórico. O indiano Prabhat Patnaik revisita a teoria leninista do imperialismo, confronta-a com as condições do capitalismo atual e conclui pela existência de alianças de classe diferenciadas, no centro e na periferia, como sendo os atores da luta anticapitalista que temos em perspetiva. O britânico David Harvey, professor em Nova Iorque, reflete sobre a lógica da acumulação de capital e as dificuldades atuais que o sistema encontra para superar pontos de estrangulamento e conseguir um crescimento agregado sustentável a prazo. As ideias expostas sobre o sujeito revolucionário são especialmente provocadoras.

O nosso editor Ronaldo Fonseca traz-nos uma reflexão sobre a importância dos aparatos repressivos do Estado, com destaque para o militar, na preservação do regime social de dominação burguesa, à luz de várias experiências históricas recentes, em especial na Europa e América Latina. Ângelo Novo, o outro editor de ‘O Comuneiro’, debruça-se sobre a revolução democrática em curso no mundo árabe, as perspectivas históricas por ela abertas e a posição de conjunto que se impõe tomar sobre ela.

Em seguida temos a colaboração de vários ensaístas de e sobre o Brasil. Valério Arcary faz algumas escavações estatísticas no admirável mundo novo do lulismo, descobrindo um país em crescimento mas com uma estrutura social persistentemente desigual. Ivonaldo Leite traça uma história recente do sindicalismo brasileiro, para denunciar um quadro de confrangedora perda de autonomia da CUT, arauto de um novo sindicalismo de Estado. Rodrigo Jurucê Gonçalves estuda, no seu contexto original, o conceito gramsciano de “revolução passiva” e faz algumas observações sobre o bom uso a fazer de Gramsci, no Brasil de hoje. José Brendan Macdonald reflecte sobre o significado de alguns pontos de contato entre o marxismo e a teologia da libertação, no contexto social das lutas dos povos da América Latina.

Passam este ano 140 anos sobre a Comuna de Paris, a primeira revolução proletária e socialista do mundo. Armando Boito defende-a de algumas tentativas historiográficas de descaraterização, ainda insistentemente em curso. Alistair Davidson transporta-nos para a extrema contemporaneidade, com uma reflexão sobre a wikileaks e outros fenómenos de transparência e comunismo espontâneos, emergentes pela ação de criadores dos novos meios eletrónicos de comunicação.

Agradecemos toda a divulgação possível, nomeadamente em listas de correio ou redes sociais de língua portuguesa. Gostaríamos de poder contar sempre com a fidelidade dos nossos leitores, e que esta seja também um compromisso de luta pela possibilidade de um outro mundo.»  


Pela Redação de ‘O Comuneiro’


Ângelo Novo

Ronaldo Fonseca