11 dezembro, 2011

um pouco de memória caótica


‎3 de Agosto de 1982 - U2 em Vilar de Mouros
Sugestões para a elaboração de uma errata sobre o artigo publicada no nº especial da Blitz dedicado aos U2.
Sendo eu um leitor assíduo da Blitz (já o era do jornal com o mesmo nome), visto a música ser uma das minhas grandes paixões, não pude deixar de adquirir o vosso número especial sobre os U2, lançado poucos dias antes da vinda a Portugal (pela 5ª vez) da, por vós e por muita gente intitulada, "Maior Banda do Mundo".

Li com especial interesse e de fio a pavio esta edição, tendo achado bastante interessante a forma como estava elaborada, com muita informação relevante, tendo servido até para colmatar algumas falhas na minha memória e para ficar a saber de alguns pormenores - nomeadamente sobre a vida pessoal e artística dos músicos, produtores e managers.

O meu interesse por uma banda como os U2 já vem do longínquo ano de 1980, altura em que escutei na rádio o tema "Stories for Boys", do 1º álbum (Boy). Imediatamente tratei de ficar atento a outros temas desta banda emergente, não só do "Boy" mas também do trabalho lançado no ano seguinte ("October"). E foi assim que me apresentei na edição de 1982 do Festival de Vilar de Mouros, devidamente preparado para ouvir ao vivo uma das bandas que mais atenção me chamou dentre aquelas que constituiam o cartaz (as outras eram os Echo & the Bunnymen, os Durutti Column e os A Certain Ratio; os Pig Bag também, mas não apareceram...; as boas surpresas foram os The Gist e os Rip, Rig & Panic).

Não contava, porém, com a oportunidade única na vida de um melómano, de privar de perto (em plenos camarins) com 3 dos elementos dos U2 (o Adam Clayton tinha ido dar uma volta pela aldeia), não imaginando - nem por sombras - que aquela banda viria a dar no que todos hoje sabemos. Como elemento de uma rádio livre do Porto (a Rádio Caos, pioneira no movimento das rádios livres), eu e mais alguns companheiros entrámos pelo "backstage" dentro, tratando logo de entrevistar o The Edge e, durante mais tempo, o próprio Bono (de quem ainda desconheciamos o nome). O Larry estava demasiado entretido com a namorada (pelo que li, deverá ser ainda a actual, e mãe dos seus 3 filhos) para falar. Além de pioneiros (talvez a 1ª rádio portuguesa a entrevistar os U2) fomos também profetas: não é que a conversa incidiu especialmente em temas políticos, sobre a situação na(s) Irlanda(s), sobre a guerra e a situação do mundo? Mas afinal era o Bono Vox que tínhamos pela frente, e não um vulgar rocker naif e hedonista, mesmo com apenas 22 anos (eu estava a um mês de completar 23). Não é pois de admirar a curiosidade especial com que sempre acompanhei a vida desta banda, não sendo, mesmo assim, um fã incondicional da sua música (até falhei os concertos de 1993 e 1997 no nosso país).

Provas deste episódio ocorrido a 3 de Agosto de 1982? Tenho muita pena, meus caros amigos, mas... não há! Não foram tiradas quaisquer fotos (éramos "homens da rádio" e não da imprensa) e a gravação audio (efectuada com microfone rudimentar, em forma de cabo de guarda-chuva, ligado a um gravador de fita) pura e simplesmente não ficou registada: o dito microfone tinha um fio interno desligado. Era a Rádio Caos na sua "melhor" forma, artesanal, dando tiros sem tirar a pistola do coldre!

Mas vamos ao que me motivou a escrever este texto: o vosso artigo, intitulado "1982 - 3 de Agosto", incluído na edição especial sobre os U2. Como já disse, eu estive lá! Por isso, atrevi-me a ressalvar algumas incorrecções no vosso texto, esperando obter da vossa parte a devida compreensão, e aproximar da verdade histórica as estórias que compõem as páginas da Blitz.

1. " o programa tinha início num sábado, 31 de Julho, com actuações dos Heróis do Mar, Echo & The Bunnymen (...) e Stranglers ". Pois acontece que quem abriu o festival, apresentados por Jorge Lima Barreto e Vítor Rua, foram precisamente os... Echo & The Bunnymen. Os Heróis não puseram lá os pés (tal como outros nomes inicialmente incluídos no cartaz, durante os 9 dias que o festival durou; os tempos eram outros... sabiamos quem iria actuar à noite, através de carros com altifalantes que percorriam, durante o dia, as ruas de Caminha).

2. " no domingo 1 de Agosto houve (...) um concerto de jazz com Don Cherry e Charlie Haden ". Era para ser um quarteto, com o Ed Blackwell e outro músico cujo nome não me recordo, mas qual quê? Jazz, nem visto nem ouvido. Sem obter qualquer explicação, a "malta do jazz" que até lá se tinha deslocado propositadamente para este concerto, rumou para casa, desconsolada, logo após o desfile de Zés Pereiras, que rematou a actuação da Orquestra Sinfónica do Porto, conduzida pelo maestro A. Vitorino d'Almeida (a propósito, a filha deste, Maria Medeiros, foi espectadora deste festival... estive "alapado" durante algum tempo a pouquíssimos metros dela).

3. " terça dia 3 foi a data em que o cartaz foi encabeçado pelos U2 (...) ". Se o cabeça de cartaz é aquele que actua em último lugar, então os U2 não o foram definitivamente, pois quem fechou essa longa noite foi a Johnny Copeland Chicago Blues Band, num concerto que me pareceu interminável.

4. "(...) e que compreendeu ainda actuações (...) dos portugueses Roxigénio e Jáfu'mega ". Estes últimos, sim. Os Roxigénio, meus amigos, actuaram na 5ª feira (dia 5) ou no dia seguinte (não me lembro bem, mas não foi, de certeza, no dia dos U2). Quem actuou, além dos mencionados e do Theodorakis, foi... Carlos do Carmo (mesmo com algumas assobiadelas; os festivais ainda não tinham os divertimentos de agora, nem outros palcos, que permitissem que o pessoal "formatasse" a sua estadia ao seu próprio gosto).

5. " Mas isto significa que os U2 foram cabeças de cartaz quando ainda só se conhecia Boy em Portugal ". Além de não serem "cabeças de cartaz" (como atrás referi), Portugal já conhecia "October", lançado no ano anterior. Não foi por acaso que eu e muitos outros correram para a boca do palco logo que se ouviram os primeiros acordes do "Gloria".

Não me lembro dos preços dos bilhetes, mas confio que, neste capítulo, a Blitz tenha acertado.

Termino, louvando e concordando absolutamente com a frase com que a Blitz terminou este artigo: " Este foi, sem dúvida, um dos mais míticos concertos que teve lugar em solo nacional ".


Atenciosamente
Alfredo Bastos Silva (Fritz)


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