09 julho, 2017

Poeta a tempo inteiro //Dentro do tinteiro //Sem mexer uma palha

A podar o deserto
no deserto
diz o poema

É quem mais prega no deserto
essa floresta negra
onde o cadáver de Nietzsche
procria Deus derivado de sémen sem OGM e cultivado sem pesticidas ou fertilizantes químicos

E lava mais branco
O branco sujo
dilu Ente

Tens um Deus
que é cego
surdo e mudo
Tu


dilu Ente


Poetas? Não passam de homens incapazes de reflexão e meus escravos, diz o poema, adoro quando me contemplam
tal estrela decadente
sem saber onde morto cair

diz o poema

O que não mata, mói e a vida o seu moinho de morte, 
diz o poema

O suicídio acaba de tirar o seu cadáver da cartola
é o pão e circo
a uma só voz

diz Ente


Entretanto o Labirinto da Saudade
parece que escapou às chamas
os xamãs desfazem-se em intelectual silêncio
apesar do chilrear do seu calçado
sobre o barril de pólvora seca
e de banha da cobra
a lutar contra as chamas com as tábuas da lei
da ordem e dos bons costumes
dilu Ente

Estou a ver
a dobrar
a geológica
moeda
a curvar-se
na obra
dilu Ente



sou tão fino
tão fino
como os cabelos
do cu
duma agulha


diz o poema


Sou um Poeta precário, dilu Ente

A vida é assim:
Nasces violando a inocência
Perdes a infância
Deambulas no finito encenando-a
Até a encontrares
E comeres-lhe o útero
dilu Ente

Acabo de apontar um defeito
A tua virtude
é um véu
dilu Ente

Hoje nasceu o heterónimo de todos os mortos
dilu Ente

Faz hoje anos que Fernando Pessoa recebeu o prémio Pessoa, diz Prosa K, um Stº António das Caldas