19 julho, 2018

Sonhos dobrados Trabalhos rasgados diz o poema

À beira-mar a saborear uns poemas engarrafados na página- em - branco, diz o poema


A Poesia tem uma cona mais velha que a Sé de Braga, diz o poema 
E nela deves perder a juventude 
No dia de São João
Diz o poema
Assim faz o povo desde a noite dos tempos




A geringonça 
não gosta do José Tolentino Mendonça 
por trocar a capelo do Rato
para ser rato da biblioteca
do Vaticano
mas em Paris três milhões de ratos
comemoram nas ruas o iluminismo
do seu cadavre exquis
diz o poema



Tempestade numa noite de verão
A lua é uma canoa
de todos os sonhos acordados
à volta de Euler
o logaritmo natural
dilu Ente


Mais uma traça
chegou à minha biblioteca
e conversa 
como um corvo
cego da sua infâmia
dilu Ente


A minha biblioteca não existe








A tua alma é o meu refúgio preferido, diz o poema 
O meu charco

Escrever é fazer justiça com as próprias mãos em bicos de pés para acordar os nossos fantasmas do paraíso, diz o poema
Trabalho sujo o meu
desde os celtas
em que degolava o estéril rei
e espalhava o seu sangue
pela página em branco
para encher o povo
de miséria, diz o poema

Rouxinol sem Facebook não sabe delirar, diz o poema


Ando a comer esta metáfora, diz o poema
Ah espera do Impossível, sentado de costas para a página em branco sujo, diz o poema

O sexo é o prolongamento de deus
e antigona o seu profeta 
refractário Ao enterrá-lo
fez os homens matarem-se uns aos outros
dilu Ente

À beira-mar todos os poemas são raios de sol
e cada onda o meu fonema
em decomposição
Cada-ver esquisito
as entranhas do seu destino
dilu Ente

 quando o poema não te aparece
dilu Ente

Devo estar grávido
também hoje o poema não aconteceu
Vou à farmácia fazer o teste
dilu Ente