01 julho, 2005

1.07

Um minuto de silêncio por Emílio Guerreiro. Que a Democracia não descanse em paz..

Novo mês, novo livro a cinquenta por cento. Durante o mês de Julho, o livro do mês é: O Livro Mau, de A.Dasilva O., 5 euros.

“ Toda a criança arrasta dentro de si um adulto. Uma página em branco cheia de sangue e de bactérias em autodestruição.
E o melhor da literatura são as crianças.

...

Deserto. Flores. As bonecas espalhadas pela areia, que voava, da direcção norte-sul. Batia-lhe no corpo. Furava a pele com uma agulha o Urso. Ia matar todos. Sem dor. Acordariam outros. O mundo seria melhor. Por vezes pensava que estava a sonhar. Ela dizia. A pensar. Gostava da palavra pensar. Aqui nasceu o verbo. Foi o vovô. Era livre pensador. Tinha escrito muito. Mas um dia queimou tudo. Ela ajudou. Só ela e ele. Estava nevoeiro no jardim. Por vezes tudo era tão claro que pensava. Assim para depois dos olhos. Tinha um galo na cabeça que não a deixava pensar. Uma bola de carne onde se escondia esse grão de areia. Pensar. Gostava de olhar para uma flor, com tal intensidade que ela perdia a cor. Fechava-se. Ela não conseguia mexer os objectos.

...

... tentara suicidar-se. Estava ali deitada. Parecia uma estrela do mar. Não sabia se estava a pensar, se a sonhar. Tentava mexer-se. Estava paralisada. Foi de urgência para o útero. Abriu os olhos para dentro e sentiu tudo muito claro.”

Um livro de Verão. Nitidamente. Para quem gosta de fazer férias na noite. Narra o testemunho de uma criança que foi vítima de violência doméstica. Foi agredida por um livro. Este. E ficou paraplégica. Também sonâmbula e, neste estado, percorre a noite, a literatura com as suas bonecas, peluches e antepassados em acção e leitura de tirar a respiração a este ambiente de cortar à faca.



Acaba de chegar a notícia de que livraria gerida portugueses em Paris de nome Lusophone está a praticar censura ao nosso título “Putas à moda do Porto”. Fabuloso!

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