22 junho, 2017

Enquanto a Piolho está em tipográficos trabalhos do seu próximo nº o 22. Aconselhamos uma visita aos nossos antepassados :«« O Piolho Viajante é obra que se notabilizou entre as camada populares, que não obteve o favor de nenhuma critica nem os elogios dos patriarcas letrados do tempo. Fez-se ela própria...Hoje, duzentos anos, …,eis que alguém a exuma, não para a considerar um obra-prima, mas para a colocar no escano que lhe pertence...» João Palma-Ferreira, Obscuros e Marginados, Estudos Portugueses, Imprensa Nacional-Casa da Moeda Lisboa|1980 »









O Piolho Viajante, obra portuguesa publicada em 1802, foi um dos livros mais lidos no Brasil do século XIX. A história, narrada por um piolho que viaja por 72 cabeças as mais diversas, satiriza os costumes da sociedade portuguesa do final do século XVIII e início do século XIX. Lançada inicialmente em folhetos semanais anônimos, veio a ser reunida em volumes em 1821, com autoria atribuída a António Manuel Policarpo da Silva. Sucessivas reedições garantiram a permanência de sua popularidade em Portugal e no Brasil até meados de 1860, quando o livro começou a sair de circulação e cair no esquecimento.
A presente edição eletrônica de O Piolho Viajante tem como objetivo contribuir para que a obra de Policarpo da Silva, tão prezada por brasileiros e portugueses do oitocentos, volte a circular.

Para conhecer mais sobre autor e obra, clique em Apresentação; para copiar e ler o romance, clique em O Piolho Viajante.







A.DASILVA O.

O PIOLHO VIAJANTE
Adoro viajar ver mundo sem a cama deixar
De cabeça em cabeça setenta e duas ao todo
entre mil e uma caparuças
Despejar o mais belo linguajar de meus bisa-
-vós celebrar com escárnio e mal-dizer
aquém e além mar
O mesmo abanar de consciências
como o fez o sr alguidar que de fraca pena
 em punho vergastou anónimo
o mundo com quitoso engenho
o poeta e o seu cabedal
que o critico que do seu
cânone se limitou a cagar
autos mistérios comédias
entremezes dum povo
a dançar a tarântula
fofa sobre o seu cadáver
ali pró rossio
de todos os cios
do pobre indigente
e vadio intelectual
dos marinheiros
soldados
e aventureiros
mutuamente se bulham
entre coplas
tregendas e estâncias
de correr mundo
em cuecas de azul trincado
pelas suas duras linhas
Entre linhas pontos finados
e demais esquisitos cadáveres
que alguma língua viva
ou morta o terá dito e maldito o seja para todo o tempo e toda gente e demais seiscentos e sessenta e seis fezes e de vezes