O Piolho Viajante, obra portuguesa publicada em
1802, foi um dos livros mais lidos no Brasil do século XIX. A história, narrada
por um piolho que viaja por 72 cabeças as mais diversas, satiriza os costumes
da sociedade portuguesa do final do século XVIII e início do século XIX.
Lançada inicialmente em folhetos semanais anônimos, veio a ser reunida em
volumes em 1821, com autoria atribuída a António Manuel Policarpo da Silva.
Sucessivas reedições garantiram a permanência de sua popularidade em Portugal e
no Brasil até meados de 1860, quando o livro começou a sair de circulação e
cair no esquecimento.
A presente edição eletrônica de O
Piolho Viajante tem como
objetivo contribuir para que a obra de Policarpo da Silva, tão prezada por
brasileiros e portugueses do oitocentos, volte a circular.
Para conhecer mais sobre autor e obra, clique em Apresentação; para
copiar e ler o romance, clique em O Piolho Viajante.
A.DASILVA O.
O PIOLHO VIAJANTE
Adoro
viajar ver mundo sem a cama deixar
De
cabeça em cabeça setenta e duas ao todo
entre
mil e uma caparuças
Despejar
o mais belo linguajar de meus bisa-
-vós
celebrar com escárnio e mal-dizer
aquém
e além mar
O
mesmo abanar de consciências
como
o fez o sr alguidar que de fraca pena
em punho vergastou anónimo
o
mundo com quitoso engenho
o
poeta e o seu cabedal
que
o critico que do seu
cânone
se limitou a cagar
autos
mistérios comédias
entremezes
dum povo
a
dançar a tarântula
fofa
sobre o seu cadáver
ali
pró rossio
de
todos os cios
do
pobre indigente
e
vadio intelectual
dos
marinheiros
soldados
e
aventureiros
mutuamente
se bulham
entre
coplas
tregendas
e estâncias
de
correr mundo
em
cuecas de azul trincado
pelas
suas duras linhas
Entre
linhas pontos finados
e
demais esquisitos cadáveres
que
alguma língua viva
ou
morta o terá dito e maldito o seja para todo o tempo e toda gente e demais
seiscentos e sessenta e seis fezes e de vezes