17 setembro, 2018

O POEMA BRANCO, sem sombra de censura, no Jornal MAPA, Nº 21, Setembro - Novembro 2018

Poema Branco, de a. dasilva o.,  


Quando era branco
jovem, sublime e a transbordar de aura
Todos  se emocionavam,
bebiam e louvavam  a minha imensa
inteligência emocional
Como se fosse um poço
de orvalho de eterna juventude:
Pássaro da Revolução
e os efeitos do seu «el ninho»

Mais parecendo moscas
volteando sobre um monte de merda
Até as criancinhas
Nem uma de mim se aproxime
Farto de carpideiras  beatas
em jacuzzi banho de jogos florais:

A velhice da eterna juventude
A velhice do eterno revoltado


Rumor de flores
fazem-me ousio
Meus amores espero
na berma dum rio

Os adventos da coroa
de espinhos em doce algodão
poço 

Em estufa fria
As dores de cadáver a dar à luz
o local do crime:
cuidado com o estado, rapaz
que morde e mata
para teu bem

Nada desejo
Mais que o eterno
Retorno a voltear-me
Sempre
Tal cadáver
No seu túmulo

São negras as noticias
Venho em todos os jornais
Como buraco negro

enrolar o poema na mortalha
e a vida é uma cadela
chamada infância

A velhice é um poste
Onde a morte é um perigo
Eminente
Como uma criança
Na infância

Eu não rimo
Nem pobre
Nem rico
Sismo
Como um nobre
à luz duma vela
adormecida
numa viagem
apenas com ida

desculpe por ainda estar por aqui
vivo
o direito dum moribundo a ser pedante

já recusei três táxis

O FUTURO é o nosso assassino silencioso

As suas cinzas de poema a mim pertencem