24 outubro, 2007

Pulga- Mercado Negro avança para mais uma edição lá para finais de Novembro, mais pormenores dentro de momentos

A Editora Estratégias Criativas lança mais dois títulos e uma nota de protesto

Leonardo Coimbra. 1893-1936. Filósofo, Orador, Político

“ Este pequeno volume contém uma síntese biográfica e ideográfica de um dos vultos mais destacados da intelectualidade portuguesa da primeira metade do século XX: Leonardo Coimbra, filósofo, orador, político e professor.
Sentia-se necessidade, há algum tempo, de um estudo global da vida, da obra e do pensamento filosófico do Mestre portuense, pois estava completa a inventariação e publicação dos seus numerosos escritos dispersos e das referências às suas actividades em Periódicos (terminada em 1994), e os seus livros tinham sido escalpelizados do ponto de vista literário, científico, filosófico e pedagógico sucessiva e monograficamente.
Mas havia lacunas no estudo da sua produção literária da primeira fase (1906-1912), bem como da última (1923-1936). O esforço crítico e hermenêutico fora centrado na fase central e mais original da elaboração e difusão do Criacionismo. Por outro lado, o seu pensamento filosófico fora situado predominantemente em contexto cultural e filosófico português, descurando as ligações ao contexto europeu e universal.
Daí a oportunidade de uma síntese acessível, equilibrada, suficientemente elucidativa do conjunto da vida, da obra e do pensamento do Filósofo-Tribuno Portuense.
É o que faz o autor deste livro, conformando-se com o modelo escolhido, para esta colecção de biografias pela Editora Estratégias Criativas.
Nele se contém a biografia mais completa de Leonardo Coimbra, dando conta dos acontecimentos individuais, familiares e sociais que a marcaram e de todas as suas actividades: literária, docente, cultural, oratória e política, situando-as no tempo e no espaço, quantificando e qualificando-as sempre que possível, e apontando as vicissitudes, boas ou más, bem ou mal sucedidas, a quew estiveram sujeitas.
Particular relevo merece a actividade oratória e política, até aqui menos atendida.
O seu pensamento filosófico, pela primeira vez, é tratado na sua totalidade e evolução disringuindo três fases: idealismo libertário, idealismo criacionista, ideorealismo,
Particular desenvolvimento mereceu a transmutação filosófica e religiosa da fase final, relevando a assimilação gradual, e com alguma originalidade, do ideorealismo aristotélico-tomista e o longo percurso de reencontro com a Fé da Igreja Católica.”


“ O CRIACIONISMO de Leonardo Coimbra
Ignorado em obra científica recente

Com data de Setembro de 2007 veio a público o livro Evolução e Criacionismo- Uma relação impossível, e foi objecto de um ciclo de conferências organizado em Lisboa pela Culturgest, nos dias 8 a 12 de Outubro.
Trata-se de um debate que está na moda, vindo dos Estados Unidos, com alguma repercussão na Europa e com indícios de entrada em Portugal
É neste debate que os quatro autores do livro e, a prefaciadora-orientadora, Clara Pinto Correia, se empenham ardorosamente, como biólogos académicos, com intenções pedagógicas e ideológicas: prevenir o assalto do Criacionismo científico às nossas escolas públicas e às nossas mentalidades, ainda regidas por preconceitos criacionistas, quer dizer, teológico-cristãos e mesmo filosóficos.
Fiquei escandalizado ao consultar o Índice de autores das “Referências Bibliográficas” e não encontrar o nome de Leonardo de Coimbra, nem a referência da sua obra O Criacionismo. Porque, que eu saiba, é o único filósofo que deu ao seu sistema filosófico – “esboço de sistema” – este nome, quer em Portugal, quer em qualquer parte do mundo.
Como pode Leonardo Coimbra ser ignorado e estar ausente neste debate, em livro de autores portugueses, ele que tomou posição no mesmo, há um século, precisamente quando era muito acesa a oposição entre Positivismo, ou Cientismo, e Espiritualismo metafísico e religioso? Posição definidora do seu sistema, optando radicalmente pelo Criacionismo, mas sem negar a evolução; antes apoiando-se nela, tal como era formulada então nas ciências físicas, biológicas, psicológicas e sociológicas, como se pode ver na “Análise científica” – a primeira parte do seu primeiro livro de 1912.
Para o Filòsofo portuense, a relação entre a Evolução e Criacionismo, em vez de impossível é necessária – quer dizer, impõe-se por força da lógica do pensamento, do princípio de inteligibilidade ou de razão suficiente (para ele concretizado no princípio da máxima racionalização que rege todo o esforço de construção da ciência); e é mesmo imprescindível, para que o homem não se veja mutilado da sua dimensão metafísica e religiosa. Portanto, o seu Criacionismo é filosófico (metafísico e teista) com demonstração racional a partir de base científica experimental, tendo em conta o facto da evolução cósmica e biológica, tal como então se entendia cientificamente, com formação e informação perfeitamente actualizada
O seu Criacionismo do pensamento humano que, em alongação assimptótica, põe a hipótese do Criacionismo divino, teria, pois, de ser classificado pelos autores citados como exemplo de “Criacionismo científico”, isto é, invadindo os domínios da ciência, com “preconceitos” filosóficos e cristãos. Pois, como sabemos, a doutrina criacionista do Universo e do Homem tem origem bíblico-cristã e foi aceite e fundamentada durante séculos pela filosofia espiritualista, teista, de inspiração teológica cristã. A evolução, por sua vez, é um facto comummente aceite pelos cientistas nos dias de hoje e já no século passado, com explicações e interpretações teóricas divergentes, quer quanto ao conteúdo, quer quanto ao grau de certeza científica, dado tratar-se de um fenómeno registado no tempo, sujeito à historicidade, e irrepetível em observação directa ou em laboratório, ou seja, verdadeira e experimentalmente verificável.
Leonardo Coimbra nem sequer é citado a par de Bergson, este com uma brevíssima referência no capítulo 5, pela influência que teve o seu livro de 1907 L’Évolution créatrice, na divulgação das ideias evolucionistas em França, maior do que a teoria de Darwin. Ora, é sabido que este livro foi certamente uma fonte para Leonardo Coimbra na elaboração do seu Criacionismo, como consta em seus escritos, a partir de 1908. Mas, dele se afastou desde logo, recusando o carácter misterioso do “élan vital” e o anti-intelectualismo subjacente ao conceito de “intuição”, como acesso único ao fundo da realidade. Leonardo Coimbra opta por uma postura gnosiológica, racionalista, idealista, sintética, dialéctica, ascensional. Na evolução biológica, tal como a Razão experimental (científica) a elabora teoricamente ou nocionalmente, encontra a prova do criacionismo do pensamentto, ou do seu sistema filosófico.
Não podiam, pois, os autores do livro em referência deixar de o contar entre os representantes do “ Criacionismo científico “malgré lui” com alguma influência entre nós na actualidade, pois saiu recentemente a quarta edição do seu livro O Criacionismo, foi realizado um Colóquio sobre “ Filosofia e Ciéncia na Obra de Leonardo Coimbra”, em 1992, e acaba de ser publicada uma biografia do Filósofo e Tribuno portuense, incluindo uma síntese de todo o seu pensamento filosófico, diferenciado em três fases, sob o título “Leonardo Coimbra. 1893 – 1936. Filósofo, Orador e Político.”
Bem merecia, ao menos, uma “menção honrosa”, para ele e para a Filosofia portuguesa.

Ângelo Alves”

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